17 dezembro 2010

Fotografia que faz recordar e sentir

Outro dia ao ver uma foto lembrei de currais e vaquinhas feitas com limões e palitos de dente que minha avó me ensinou a fazer, lembrei de rodeios com tanajuras e lutas brutais entre formigas vermelhas no fundo do quintal, lembrei também de estradinhas tortas, rabiscadas na calçada com lajota das reformas que corriam lá por casa, e nelas carrinhos de plástico azul com rodas que não rodavam. Lembrei então que nessa mesma calçada rachada pelas raízes de duas árvores que cresceram comigo e na qual eu passava minhas tardes brincando sem camisa, um dia meu pai escreveu seu nome no cimento fresco, e sumiu em um fiat 147 verde, deixando lá, naquela marca sólida o único sinal da sua vaga presença em minha infância. Aos 10, perdi uma tarde com um prego enferrujado raspando pacientemente o concreto, tudo isso para acrescentar um "í" antes do "h", transcrevendo seu nome para o meu. Dai em diante, aquele signo gravado passou a representar sua inexistência e consolidar a minha indiferença que permanece até os dias de hoje.

O engraçado é que não foi uma fotografia de quando eu era criança que disparou minha memória, mas uma fotografia de um fotografo que nunca me fotografou, e nunca saberá que eu existo, e que também nunca saberá o que sua fotografia descompromissada provocou em mim.

Quando fotografo, é esse tipo de fotografias que procuro fazer. E espero que em um dia desses venha uma das minhas provocar o que eu senti à uma pessoa qualquer perdida no mundo.

15 dezembro 2010

Por quê fotografo?

No alto da ociosidade me perguntei: por quê fotografo?
Pensei exaustivamente, procurei respostas prontas gerada na cabeça de pensadores com intenção de toma-las como minhas, mas no final das contas, eu por mim nada conclui, e das idéias dos pensadores nenhuma me satisfez.

A pergunta continua a ecoar no meu intimo sem resposta, e vai lentamente criando um vazio insuportável, uma crescente ausência de sentido, uma falta de incômoda de explicação. Então, para preencher esse vazio, no meu âmago só me vem a vontade de continuar fotografando exatamente à minha maneira, e sem pressas deixar que as coisas aconteçam por si sós, sem forçar a barra nem me preocupar com "porquês" "para-quês" e "comos", deixar fluir a transformação latente que através da fotografia se opera no meu mundo e em mim.

Sou um sentimental confesso, e sei apenas genuinamente sentir, não sei traduzir sentimentos. Talvez fotografar seja apenas sentir e fotografia, sentimento. Mas isso me soa muito simples para convencer.
Aqui dentro um dialogo aristotélico na qual sou mestre e aluno simultaneamente, insiste em lançar impetuosamente perguntas, forçando o parto de idéias.

Cabe a mim gerir com precisão esse parto que por ser solitário é mais lento e sofrido. Meu medo é desencadear um aborto ou gerar um feto deformado, meu maior medo é morrer com uma vida prestes a nascer, aqui, dentro de mim.

esquinas 2#




frame #1

12 dezembro 2010

circo


árvore #3

11 dezembro 2010

para evitar desordem

Hoje, para evitar a desordem postei em seqüência de coisas a série «crônica_desorganização».

São 5 fotografias em forma de confissão semi-explicita de aspectos de personalidade, comportamento e situação, dos quais normalmente  evitamos a todo custo dizer ou mostrar aos outros. Com isso, ao despir a máscara proponho antes, desmascarar comigo todos os homens, para que depois possa me entregar ao julgo destes sabendo que eles me julgam conscientes de que são também os próprios réus.

10 dezembro 2010

natureza morta

09 dezembro 2010

árvore #2

sem título

moinho de maré #4

08 dezembro 2010

bloco

07 dezembro 2010

cadela preta

é mal do herói, mano

"Comé zuka, então tira lá um retrato de um tuga preto pros tropas do Brasil ver"

auto retrato diante do espelho

Esse não sou eu. Sou eu diante do espelho em confronto direto com meu ego. Sou eu preocupado com a expectativa alheia. Sou eu fotografado o que é muito diferente. Diante da obetiva sou dominado pelo poder da fotografia então esboço uma pose forçada, me transformo automaticamente antecipando a imagem. A imagem refletida no espelho tem poder, a imagem produzida pela aparelho também tem poder. Mais que diabo de poder é esse? Que poder é esse que a imagem tem de nos usar, de nos modificar naquele instante que estamos prestes a ser retratados? Que força é essa que emana do espelho quando olhamos nosso reflexo no fundo dos olhos?

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